“Alice no país das Maravilhas” (melhores redações – FUVEST 1999)
A juventude é contestadora,
revolucionária, inovadora. A própria idade e imaturidade do adolescente lhe dá
a sensação de onipotência e vontade de mudar o mundo. Certo? Não, errado. Infelizmente
a jovem geração brasileira da atualidade é, em grande parte, caracterizada pela
futilidade, pela falta de consciência social e pelo conformismo.
Ao passarmos pelos inúmeros
shoppings do Brasil, localizamos um extrato da sociedade, característico dos
anos 90: a juventude de shopping, possuidora de valores que envergonhariam a
juventude que há dez anos lutava por “diretas já”. São jovens preocupados com
ostentação, seja através de roupas de griffes, telefones celulares e carros
importados.
A injusta distribuição de renda do
nosso país, e a criminalidade geraram jovens de condomínio fechado. Cercada em
seu mundo de fantasia, essa geração não tem o mínimo de consciência social, e
nem interesse em conhecer o que há por tráz dos muros de seu “país das
maravilhas”. São pessoas, que muitas vezes não conhecem o valor do dinheiro, e
que não sabem o quanto seus pais tiveram que trabalhar para obtê-lo.
É perceptível que a um período de
agitação política e de manifestações sociais, que caracterizaram o regime
militar, seguiu a geração atual, conformada e acomodada. Essa juventude não tem
ideais. Reage ao problema dos “sem-terra” ou à quebra da saúde pública, como
reagiria ao lançamento de uma nova coleção de roupas. Quem sabe o segundo fato
fosse até mais interessante para ela...
Desse modo, a juventude de
shopping, de condomínio fechado ou a juventude conformada são todos sinônimos
para esses mesmos jovens da atualidade, que abdicaram de sua vontade natural de
mudar o mundo, e de seu ímpeto revolucionário. Preferem contar com sua dose de
alienação diária e fazerem compras.
É! Talvez seja realmente mais
fácil, ou como eles diriam: “mais legal”.
Juventude de contrastes (melhores redações – FUVEST 1999)
A juventude do fim do século [XX]
é, muito comumente, encarada sobretudo sob seu lado negativo. São apontados
constantemente, por exemplo, o frequente uso de drogas, a rebeldia e a negação
dos mais diversos valores tradicionais, a tendência à “cultura do lixo”. Apesar
de ser inquestionável a existência de um “espírito jovem” que independe da
geração em questão, o comportamento dos jovens é, seguramente, consequência da
sociedade em que vivem.
Dessa forma, a geração atual é
produto de seu tempo, e é daí que surgem os evidentes aspectos negativos.
Portanto, é inegável que grande parte dos jovens carrega na sua natureza básica
os mais diversos valores distorcidos: violência, falta de respeito, rebeldia,
entre dezena de outros. Porém, é também inegável que a mídia e apropria
sociedade atual têm um papel fundamental nesse tipo de formação.
Apesar de ser menos discutido,
existe um lado positivo da juventude atual: ela é fruto da “era da informação”,
e de um mundo extremamente modernizado. Nunca antes uma geração teve acesso tão
rápido e eficiente à informação em geral, ou liberdade para discutir e
questionar quaisquer temas. Consequência disso é a maior produtividade do
processo de educação e ensino, e maior interesse e consciência por parte dos
jovens em relação ao mundo que os rodeia.
Submetida simultaneamente a influências
tão contrastantes, a juventude assume um comportamento heterogêneo, mas é comum
à maioria a contestação e o inconformismo.
O acesso ao conhecimento traz consigo o desejo de mudanças sociais.
Claro exemplo disso, no contexto brasileiro, é a luta pelo impeachment de
Collor, à qual os jovens uniram-se e deram força.
Como análise final, a geração jovem
do fim do século passa por rápidas e constantes transformações, paralelamente a
um mundo com o qual acontece o mesmo. É seguro afirmar que, apesar dos fatores
desfavoráveis, vem ocorrendo um progresso na forma de agir e pensar da
juventude. Faz-se necessário que haja mobilização da sociedade para que esse
progresso tenha continuidade e seja aprimorado.
O que fizeram com a rebeldia adolescente? (Felipe Neto, encontrado originalmente do blog “Controle remoto”);
Nossos adolescentes estão calados.
Amordaçados dentro de uma realidade jamais vista. Controlados pelo que a
tecnologia vende como libertação. Perdemos as vozes dos meninos e meninas,
insuportáveis como só eles conseguiam ser. Deram lugar a uma massa compacta de
desmiolados inertes, pedaços de poeira velha varridos de um lado para o outro
sem reação.
O que fizeram com a rebeldia
adolescente? Aquela que criava verdadeiros monstrinhos completamente
impossíveis de lidar. Onde foi parar a voz esganiçada dos que se proclamavam
sempre com razão? Dos que podiam ter todos os defeitos, mas lutavam com unhas e
dentes por suas crenças. Aqueles que não se deixavam passar por cima, que não
admitiam a derrota, que explodiam sem razão mas partiam pra cima do que
consideravam errado. Onde foram parar? Como uma maioria virou minoria?
Está difícil enxergar futuro na
adolescência que observo hoje, cada vez mais dominada, cada vez mais apática,
acatando ordens insanas como se justas fossem, ouvindo músicas melosas que
apenas falam sobre amores não correspondidos. Porra! Cadê o som das batidas que
despertavam os olhares sangrentos contra tudo e todos? O adolescente precisa de
sua irracionalidade, de seus saltos perdidos rumo a paredes sólidas onde
estatelam as fuças contra o concreto, de que outra forma podem amadurecer se
não errando?
A adolescência precisa de sua
rebeldia insana, necessita de uma interação social que leve ao “ignorar de
conselhos”, das más influências. É um processo longo de aprendizado,
principalmente de vida, do tipo que nos faz olhar para trás e dar gargalhada
das loucuras cometidas, mas com a consciência de que foi espetacular. Vejo hoje
adolescentes aceitando seus pais como legítimos donos, baixando a cabeça para
absurdos impostos. Não há revolta, não há interesse em xingar.
Os que hoje ouvem McFly, antes
ouviam os berros enlouquecidos de Chester Bennington e Serj Tankian.
Inspiravam-se em ir contra o sistema, mesmo sem saber o que isso significava.
Observamos cada vez mais uma geração do “sim, senhor”, ao invés do “vai se
fuder, você não sabe de nada”. O que já gerou movimentos como o Punk, hoje gera
apenas movimentos como o Emo. O que antes eram berros e discussões pessoais,
hoje transformou-se em papinhos de Messenger. O comodismo impera.
O
que fizeram com a rebeldia adolescente? Queremos aqueles insuportáveis de
volta. Quebrem tudo, lutem pelo que acreditam, levantem essas merdas dessas
orelhas.
Há certa resistência entre alguns
estudiosos em usar termos muito fechados para definir povos, regiões ou
gerações. Argumentam que definições simplificam os problemas e que toda
simplificação tende a superficializar o debate. Outra corrente defende que,
ainda que possam simplificar o debate, as definições têm o mérito de orientar
as discussões. Fiquemos com a segunda opção. Até pouco tempo atrás, livros e
filmes ainda falavam da Geração X, aquela que substituiu os yuppies dos anos
80. Essa turma preferia o bermudão e a camisa de flanela à gravata colorida e
ao relógio Rolex, ícones de seus antecessores. Isso foi no início dos anos 90.
Recentemente, o mercado publicitário saudou a maioridade da Geração Y, formada
pelos jovens nascidos do meio para o fim da década de 70, que assistiram à
revolução tecnológica. Ao contrário de seus antecessores slackers – algo
como "largadões", em inglês –, os adolescentes da metade dos anos 90
eram consumistas. Mas não de roupas, e sim de traquitanas eletrônicas. Agora,
começa-se a falar na Geração Z, que engloba os nascidos em meados da década de
80.
A grande nuance dessa geração é
zapear. Daí o Z. Em comum, essa juventude muda de um canal para outro na
televisão. Vai da internet para o telefone, do telefone para o vídeo e retorna
novamente à internet. Também troca de uma visão de mundo para outra, na vida.
Garotas e garotos da Geração Z, em
sua maioria, nunca conceberam o planeta sem computador, chats, telefone
celular. Por isso, são menos deslumbrados que os da Geração Y com chips e
joysticks. Sua maneira de pensar foi influenciada desde o berço pelo mundo
complexo e veloz que a tecnologia engendrou. Diferentemente de seus pais,
sentem-se à vontade quando ligam ao mesmo tempo a televisão, o rádio, o
telefone, música e internet. Outra característica essencial dessa geração é o
conceito de mundo que possui, desapegado das fronteiras geográficas. Para eles,
a globalização não foi um valor adquirido no meio da vida a um custo elevado.
Aprenderam a conviver com ela já na infância. Como informação não lhes falta,
estão um passo à frente dos mais velhos, concentrados em adaptar-se aos novos
tempos.
Enquanto os demais buscam adquirir
informação, o desafio que se apresenta à Geração Z é de outra natureza. Ela
precisa aprender a selecionar e separar o joio do trigo. E esse desafio não se
resolve com um micro veloz. A arma chama-se maturidade. É nisso, dizem os
especialistas, que os jovens precisam trabalhar. Como sempre.
Houve
um tempo em que não existiam jovens. Existiam, evidentemente, pessoas na faixa
dos 15 aos 30 anos de idade, mas elas não se viam como um grupo que
compartilhava valores, códigos de conduta, vestimentas ou dialetos diferentes
do restante da sociedade. Nesse tempo, que se estendeu até o final da Segunda
Guerra Mundial, a infância era mais longa, interrompida por uma brusca entrada
na vida adulta. As meninas eram meninas – ou seja, brincavam de bonecas – até
os quinze anos, quando debutavam e começavam a espera, por vezes exasperadora,
do pretendente com o qual se casariam. As filhas de famílias de classe média
iam cursar a Escola Normal, onde aprimoravam seus dotes de futuras esposas e
mães. Os garotos tinham infância um pouco mais longa: os folguedos podiam durar
até os dezessete anos, quando a necessidade os empurrava para a rua, para
aprenderem uma profissão e ajudar no sustento da casa. Aos mais ricos, que
ingressavam nas faculdades, era permitido adiar um pouco mais a entrada no
mundo do trabalho.
Essa
etapa entre a infância e a adultice – a espera matrimonial das moças, a
formação profissional dos rapazes – não era uma “juventude” no sentido que uso
aqui, isto é, uma fase diferenciada da vida, durante a qual se compartilha
valores, condutas, modas etc., diferentes dos adultos e crianças. O que todos
queriam era abreviar, e não prolongar essa fase. Não havia qualquer prazer em
ser jovem. A inexperiência era um martírio, motivo de escárnio para os mais
velhos. Nos anos 1900, na Bolsa de Café de São Paulo, por exemplo,
ridicularizava-se os rapazes que não exibissem vastos bigodes, símbolo de
virilidade na Belle Époque. O
que os moços e moças mais desejavam era serem valorizados e respeitados, o que
só ocorreria com casamento, filhos, experiência profissional e diploma. Os
jovens se preparavam arduamente para serem aceitos no mundo dos adultos, e
nisso se resumia a juventude.
Tudo
isso mudou no pós-guerra. Nos países ricos e, entre nós, nas famílias de classe
média e alta das grandes cidades, surgiram condutas, modas, músicas, enfim, um
universo de referências culturais identificadas à juventude. Nos Estados
Unidos, graças à prosperidade econômica e ao costume dos empregos temporários,
os jovens passaram a dispor de mais dinheiro, o que se traduziu na formação de nichos
de consumo específicos para essa faixa etária. O nascimento do rock and roll, entre 1951 e 1952,
exemplifica bem esse novo comportamento. Naqueles anos, garotos e garotas
começaram a sintonizar rádios independentes de rythm and blues negro, a comprar discos desse gênero e a
dançá-los, utilizando-se das coreografias do boogie woogie. Artistas como Fats Domino, Chuck Berry e Little
Richard logo perceberam que o ritmo e o hedonismo da música negra era o que mais
agradava os jovens. Por intermédio de pequenas gravadoras, lançaram composições
que fundiam o rythm and blues ao country. Esse novo estilo, batizado
de rock and roll, tornou-se um estrondoso
sucesso e pegou de surpresa a grande indústria fonográfica. Pela primeira vez,
os adolescentes ouviam um tipo de música diferente do que os seus pais
gostavam.
Junto
com a música, vieram o cinema e a moda. Hollywood logo percebeu que a juventude
era um novo filão de consumo, e Juventude
Transviada estreou em 1955, com James Dean interpretando Jim Stark, um
rebelde agressivo que esbanjava charme e apelo sexual. Marlon Brando, em O Selvagem, lançado no mesmo ano, viveu
um jovem líder de uma gangue de motociclistas, vestindo camiseta justa e
jaqueta de couro. Dean e Brando tornaram-se os modelos daquela geração: o
comportamento rebelde, agressivo e sensual de seus personagens era imitado
pelos garotos e arrancava suspiros das moças. Nessa época, formaram-se
violentas gangues de jovens em quase todas as grandes cidades do mundo,
montados em motonetas scooters e
trajando a moda rockabilly:
camisetas, jaquetas de couro, calças jeans, costeletas e longos topetes.
Inventava-se,
assim, a juventude, identificada pelo comportamento transgressor, pela gíria,
pela vestimenta, pela música. Os adolescentes, em qualquer cultura e época,
constroem suas identidades ao rejeitar a condição de crianças e romper, às
vezes intempestivamente, os vínculos que os mantêm unidos aos pais. A novidade
histórica dos anos do pós-guerra foi associar, a essa atitude essencialmente
juvenil, dois ingredientes: a ideia de liberdade individual e o consumo. A
relação entre esses elementos foi dialética, como diriam os hegelianos e marxistas.
A ideia de liberdade como livre arbítrio, herdada das Luzes e fundamental para
a concepção ocidental de democracia, foi transformada pelos jovens rebeldes em
liberdade para escolher ser diferente dos pais, professores, padres, ou seja,
dos adultos. Isso implicava no consumo de bens – músicas, roupas, adereços, filmes,
drogas – capazes de defini-los como membros de um grupo que lhes emprestava
identidade e, portanto, reforçava a sensação de liberdade.
Hoje,
uma das ideias centrais de nossa cultura é a obsessão pela juventude. A
infância foi encurtada, pois meninos e meninas querem deixar de ser crianças
cada vez mais cedo. A adultice é cada vez mais postergada, pois os adultos
relutam em assumi-la e querem permanecer jovens por mais tempo. Se, antes, a
juventude era apenas mais um nicho de consumo, hoje se tornou o eixo quase
único a orientar a produção da música, moda, cinema e outros (...)
21/07/2009 - Luis Bustamante