segunda-feira, agosto 27

A Juventude em diferentes textos


Alice no país das Maravilhas” (melhores redações – FUVEST 1999)

A juventude é contestadora, revolucionária, inovadora. A própria idade e imaturidade do adolescente lhe dá a sensação de onipotência e vontade de mudar o mundo. Certo? Não, errado. Infelizmente a jovem geração brasileira da atualidade é, em grande parte, caracterizada pela futilidade, pela falta de consciência social e pelo conformismo.
Ao passarmos pelos inúmeros shoppings do Brasil, localizamos um extrato da sociedade, característico dos anos 90: a juventude de shopping, possuidora de valores que envergonhariam a juventude que há dez anos lutava por “diretas já”. São jovens preocupados com ostentação, seja através de roupas de griffes, telefones celulares e carros importados.
A injusta distribuição de renda do nosso país, e a criminalidade geraram jovens de condomínio fechado. Cercada em seu mundo de fantasia, essa geração não tem o mínimo de consciência social, e nem interesse em conhecer o que há por tráz dos muros de seu “país das maravilhas”. São pessoas, que muitas vezes não conhecem o valor do dinheiro, e que não sabem o quanto seus pais tiveram que trabalhar para obtê-lo.
É perceptível que a um período de agitação política e de manifestações sociais, que caracterizaram o regime militar, seguiu a geração atual, conformada e acomodada. Essa juventude não tem ideais. Reage ao problema dos “sem-terra” ou à quebra da saúde pública, como reagiria ao lançamento de uma nova coleção de roupas. Quem sabe o segundo fato fosse até mais interessante para ela...
Desse modo, a juventude de shopping, de condomínio fechado ou a juventude conformada são todos sinônimos para esses mesmos jovens da atualidade, que abdicaram de sua vontade natural de mudar o mundo, e de seu ímpeto revolucionário. Preferem contar com sua dose de alienação diária e fazerem compras.
É! Talvez seja realmente mais fácil, ou como eles diriam: “mais legal”.


Juventude de contrastes (melhores redações – FUVEST 1999)

A juventude do fim do século [XX] é, muito comumente, encarada sobretudo sob seu lado negativo. São apontados constantemente, por exemplo, o frequente uso de drogas, a rebeldia e a negação dos mais diversos valores tradicionais, a tendência à “cultura do lixo”. Apesar de ser inquestionável a existência de um “espírito jovem” que independe da geração em questão, o comportamento dos jovens é, seguramente, consequência da sociedade em que vivem.
Dessa forma, a geração atual é produto de seu tempo, e é daí que surgem os evidentes aspectos negativos. Portanto, é inegável que grande parte dos jovens carrega na sua natureza básica os mais diversos valores distorcidos: violência, falta de respeito, rebeldia, entre dezena de outros. Porém, é também inegável que a mídia e apropria sociedade atual têm um papel fundamental nesse tipo de formação.
Apesar de ser menos discutido, existe um lado positivo da juventude atual: ela é fruto da “era da informação”, e de um mundo extremamente modernizado. Nunca antes uma geração teve acesso tão rápido e eficiente à informação em geral, ou liberdade para discutir e questionar quaisquer temas. Consequência disso é a maior produtividade do processo de educação e ensino, e maior interesse e consciência por parte dos jovens em relação ao mundo que os rodeia.
Submetida simultaneamente a influências tão contrastantes, a juventude assume um comportamento heterogêneo, mas é comum à maioria a contestação e o inconformismo.  O acesso ao conhecimento traz consigo o desejo de mudanças sociais. Claro exemplo disso, no contexto brasileiro, é a luta pelo impeachment de Collor, à qual os jovens uniram-se e deram força.
Como análise final, a geração jovem do fim do século passa por rápidas e constantes transformações, paralelamente a um mundo com o qual acontece o mesmo. É seguro afirmar que, apesar dos fatores desfavoráveis, vem ocorrendo um progresso na forma de agir e pensar da juventude. Faz-se necessário que haja mobilização da sociedade para que esse progresso tenha continuidade e seja aprimorado.


O que fizeram com a rebeldia adolescente? (Felipe Neto, encontrado originalmente do blog “Controle remoto”); 

Nossos adolescentes estão calados. Amordaçados dentro de uma realidade jamais vista. Controlados pelo que a tecnologia vende como libertação. Perdemos as vozes dos meninos e meninas, insuportáveis como só eles conseguiam ser. Deram lugar a uma massa compacta de desmiolados inertes, pedaços de poeira velha varridos de um lado para o outro sem reação.
O que fizeram com a rebeldia adolescente? Aquela que criava verdadeiros monstrinhos completamente impossíveis de lidar. Onde foi parar a voz esganiçada dos que se proclamavam sempre com razão? Dos que podiam ter todos os defeitos, mas lutavam com unhas e dentes por suas crenças. Aqueles que não se deixavam passar por cima, que não admitiam a derrota, que explodiam sem razão mas partiam pra cima do que consideravam errado. Onde foram parar? Como uma maioria virou minoria?
Está difícil enxergar futuro na adolescência que observo hoje, cada vez mais dominada, cada vez mais apática, acatando ordens insanas como se justas fossem, ouvindo músicas melosas que apenas falam sobre amores não correspondidos. Porra! Cadê o som das batidas que despertavam os olhares sangrentos contra tudo e todos? O adolescente precisa de sua irracionalidade, de seus saltos perdidos rumo a paredes sólidas onde estatelam as fuças contra o concreto, de que outra forma podem amadurecer se não errando?
A adolescência precisa de sua rebeldia insana, necessita de uma interação social que leve ao “ignorar de conselhos”, das más influências. É um processo longo de aprendizado, principalmente de vida, do tipo que nos faz olhar para trás e dar gargalhada das loucuras cometidas, mas com a consciência de que foi espetacular. Vejo hoje adolescentes aceitando seus pais como legítimos donos, baixando a cabeça para absurdos impostos. Não há revolta, não há interesse em xingar.
Os que hoje ouvem McFly, antes ouviam os berros enlouquecidos de Chester Bennington e Serj Tankian. Inspiravam-se em ir contra o sistema, mesmo sem saber o que isso significava. Observamos cada vez mais uma geração do “sim, senhor”, ao invés do “vai se fuder, você não sabe de nada”. O que já gerou movimentos como o Punk, hoje gera apenas movimentos como o Emo. O que antes eram berros e discussões pessoais, hoje transformou-se em papinhos de Messenger. O comodismo impera.
O que fizeram com a rebeldia adolescente? Queremos aqueles insuportáveis de volta. Quebrem tudo, lutem pelo que acreditam, levantem essas merdas dessas orelhas.




Há certa resistência entre alguns estudiosos em usar termos muito fechados para definir povos, regiões ou gerações. Argumentam que definições simplificam os problemas e que toda simplificação tende a superficializar o debate. Outra corrente defende que, ainda que possam simplificar o debate, as definições têm o mérito de orientar as discussões. Fiquemos com a segunda opção. Até pouco tempo atrás, livros e filmes ainda falavam da Geração X, aquela que substituiu os yuppies dos anos 80. Essa turma preferia o bermudão e a camisa de flanela à gravata colorida e ao relógio Rolex, ícones de seus antecessores. Isso foi no início dos anos 90. Recentemente, o mercado publicitário saudou a maioridade da Geração Y, formada pelos jovens nascidos do meio para o fim da década de 70, que assistiram à revolução tecnológica. Ao contrário de seus antecessores slackers – algo como "largadões", em inglês –, os adolescentes da metade dos anos 90 eram consumistas. Mas não de roupas, e sim de traquitanas eletrônicas. Agora, começa-se a falar na Geração Z, que engloba os nascidos em meados da década de 80.
A grande nuance dessa geração é zapear. Daí o Z. Em comum, essa juventude muda de um canal para outro na televisão. Vai da internet para o telefone, do telefone para o vídeo e retorna novamente à internet. Também troca de uma visão de mundo para outra, na vida.
Garotas e garotos da Geração Z, em sua maioria, nunca conceberam o planeta sem computador, chats, telefone celular. Por isso, são menos deslumbrados que os da Geração Y com chips e joysticks. Sua maneira de pensar foi influenciada desde o berço pelo mundo complexo e veloz que a tecnologia engendrou. Diferentemente de seus pais, sentem-se à vontade quando ligam ao mesmo tempo a televisão, o rádio, o telefone, música e internet. Outra característica essencial dessa geração é o conceito de mundo que possui, desapegado das fronteiras geográficas. Para eles, a globalização não foi um valor adquirido no meio da vida a um custo elevado. Aprenderam a conviver com ela já na infância. Como informação não lhes falta, estão um passo à frente dos mais velhos, concentrados em adaptar-se aos novos tempos.
Enquanto os demais buscam adquirir informação, o desafio que se apresenta à Geração Z é de outra natureza. Ela precisa aprender a selecionar e separar o joio do trigo. E esse desafio não se resolve com um micro veloz. A arma chama-se maturidade. É nisso, dizem os especialistas, que os jovens precisam trabalhar. Como sempre.




Houve um tempo em que não existiam jovens. Existiam, evidentemente, pessoas na faixa dos 15 aos 30 anos de idade, mas elas não se viam como um grupo que compartilhava valores, códigos de conduta, vestimentas ou dialetos diferentes do restante da sociedade. Nesse tempo, que se estendeu até o final da Segunda Guerra Mundial, a infância era mais longa, interrompida por uma brusca entrada na vida adulta. As meninas eram meninas – ou seja, brincavam de bonecas – até os quinze anos, quando debutavam e começavam a espera, por vezes exasperadora, do pretendente com o qual se casariam. As filhas de famílias de classe média iam cursar a Escola Normal, onde aprimoravam seus dotes de futuras esposas e mães. Os garotos tinham infância um pouco mais longa: os folguedos podiam durar até os dezessete anos, quando a necessidade os empurrava para a rua, para aprenderem uma profissão e ajudar no sustento da casa. Aos mais ricos, que ingressavam nas faculdades, era permitido adiar um pouco mais a entrada no mundo do trabalho.
Essa etapa entre a infância e a adultice – a espera matrimonial das moças, a formação profissional dos rapazes – não era uma “juventude” no sentido que uso aqui, isto é, uma fase diferenciada da vida, durante a qual se compartilha valores, condutas, modas etc., diferentes dos adultos e crianças. O que todos queriam era abreviar, e não prolongar essa fase. Não havia qualquer prazer em ser jovem. A inexperiência era um martírio, motivo de escárnio para os mais velhos. Nos anos 1900, na Bolsa de Café de São Paulo, por exemplo, ridicularizava-se os rapazes que não exibissem vastos bigodes, símbolo de virilidade na Belle Époque. O que os moços e moças mais desejavam era serem valorizados e respeitados, o que só ocorreria com casamento, filhos, experiência profissional e diploma. Os jovens se preparavam arduamente para serem aceitos no mundo dos adultos, e nisso se resumia a juventude.
Tudo isso mudou no pós-guerra. Nos países ricos e, entre nós, nas famílias de classe média e alta das grandes cidades, surgiram condutas, modas, músicas, enfim, um universo de referências culturais identificadas à juventude. Nos Estados Unidos, graças à prosperidade econômica e ao costume dos empregos temporários, os jovens passaram a dispor de mais dinheiro, o que se traduziu na formação de nichos de consumo específicos para essa faixa etária. O nascimento do rock and roll, entre 1951 e 1952, exemplifica bem esse novo comportamento. Naqueles anos, garotos e garotas começaram a sintonizar rádios independentes de rythm and blues negro, a comprar discos desse gênero e a dançá-los, utilizando-se das coreografias do boogie woogie. Artistas como Fats Domino, Chuck Berry e Little Richard logo perceberam que o ritmo e o hedonismo da música negra era o que mais agradava os jovens. Por intermédio de pequenas gravadoras, lançaram composições que fundiam o rythm and blues ao country. Esse novo estilo, batizado de rock and roll, tornou-se um estrondoso sucesso e pegou de surpresa a grande indústria fonográfica. Pela primeira vez, os adolescentes ouviam um tipo de música diferente do que os seus pais gostavam.
Junto com a música, vieram o cinema e a moda. Hollywood logo percebeu que a juventude era um novo filão de consumo, e Juventude Transviada estreou em 1955, com James Dean interpretando Jim Stark, um rebelde agressivo que esbanjava charme e apelo sexual. Marlon Brando, em O Selvagem, lançado no mesmo ano, viveu um jovem líder de uma gangue de motociclistas, vestindo camiseta justa e jaqueta de couro. Dean e Brando tornaram-se os modelos daquela geração: o comportamento rebelde, agressivo e sensual de seus personagens era imitado pelos garotos e arrancava suspiros das moças. Nessa época, formaram-se violentas gangues de jovens em quase todas as grandes cidades do mundo, montados em motonetas scooters e trajando a moda rockabilly: camisetas, jaquetas de couro, calças jeans, costeletas e longos topetes.
Inventava-se, assim, a juventude, identificada pelo comportamento transgressor, pela gíria, pela vestimenta, pela música. Os adolescentes, em qualquer cultura e época, constroem suas identidades ao rejeitar a condição de crianças e romper, às vezes intempestivamente, os vínculos que os mantêm unidos aos pais. A novidade histórica dos anos do pós-guerra foi associar, a essa atitude essencialmente juvenil, dois ingredientes: a ideia de liberdade individual e o consumo. A relação entre esses elementos foi dialética, como diriam os hegelianos e marxistas. A ideia de liberdade como livre arbítrio, herdada das Luzes e fundamental para a concepção ocidental de democracia, foi transformada pelos jovens rebeldes em liberdade para escolher ser diferente dos pais, professores, padres, ou seja, dos adultos. Isso implicava no consumo de bens – músicas, roupas, adereços, filmes, drogas – capazes de defini-los como membros de um grupo que lhes emprestava identidade e, portanto, reforçava a sensação de liberdade.
Hoje, uma das ideias centrais de nossa cultura é a obsessão pela juventude. A infância foi encurtada, pois meninos e meninas querem deixar de ser crianças cada vez mais cedo. A adultice é cada vez mais postergada, pois os adultos relutam em assumi-la e querem permanecer jovens por mais tempo. Se, antes, a juventude era apenas mais um nicho de consumo, hoje se tornou o eixo quase único a orientar a produção da música, moda, cinema e outros (...)

21/07/2009 - Luis Bustamante