Sou professor. Mas, antes de tudo, sou ser humano. Saio com amigos aos finais de semana, vejo TV quando tenho tempo, como macarrão da sogra e brigo quando acho que tenho que brigar. Não sou diferente de ninguém que anda por aí. Aliás: sou diferente sim, porque sou único, isto é, não existe outro Acacio andando por aí, fazendo as coisas que eu faço. E é por não haver ninguém como eu é que eu sou um ser humano único, e tenho meu papel na vida. Na minha vida e na vida de outras pessoas. Do mesmo modo, muitas e muitas pessoas têm um papel – às vezes mais importante que o meu – na minha vida. Por ter consciência de que minha vida influencia outras vidas e é influenciada por elas é que o meu princípio primordial como professor é o respeito pelo ser humano, independente da idade, da orientação sexual, dos gostos particulares, da família ou dos amigos.
E não é um respeito do tipo “sim senhor, não senhor”, um respeito de palavras, apenas. Falo de um respeito pelo que somos, além dos nossos papéis de professor, aluno, pai, mãe, amigo. Um respeito por aquilo que é voltado para o coletivo, para o bem da maioria das pessoas. Um respeito baseado no diálogo, na conversa, na tentativa de entender, e não julgar, o outro. Um respeito que procura ver com outros olhos, que não os nossos. Um respeito que sempre busca se colocar na situação do outro, porque só assim se pode compreender nosso semelhante.
Respeitar não significa concordar. Pelo contrário: o respeito significa muitas vezes discordar, saber dar a sua opinião, mas com a mente aberta o suficiente para se permitir mudar o outro, ou ser mudado por ele. Seres humanos mudam constantemente, e não há vergonha nenhuma nisso. Mudamos de gosto, de namorada, de sonhos. Mudamos porque o mundo muda, e não podemos fingir que isso não acontece.
A educação deveria mudar as pessoas. Deveria transformá-las. Não no sentido de torná-las mais inteligentes, preparadas para o mercado de trabalho ou para o vestibular. A educação deveria transformar as pessoas em seres humanos melhores, que soubessem respeitar os outros, entendê-los antes de julgá-los. Deveria dar a qualquer ser humano um conhecimento capaz de enxergar a história dos homens e ver que somos nós, afinal, quem movimentamos o mundo. São nossas ações que constroem a história do planeta. Em nossos tempos, onde se mata alguém por um simples pisão no pé, ter consciência de nossos atos é essencial.
Sou professor porque acredito neste tipo de educação, que ultrapassa o simples ensinar português, inglês, matemática etc etc etc. Através da minha matéria procuro ensinar – e aprender – como nós, seres humanos, construímos este mundo em que vivemos, como a nossa língua revela quem somos, como somos e porque somos. Mais do que regras gramaticais, a língua portuguesa revela a nossa identidade e a nossa história. É por meio dela que as maiores injustiças são cometidas, mas também é por meio dela que os atos mais nobres começam.
Ensinar e aprender vão além das salas de aula. Vão além das disciplinas a que estão acostumados. Envolve muito mais do que conteúdos de livros. O ato de ensinar está carregado de valores que nem sempre estão claros ou são ditos. Quando me propus a ensinar, estava pensando mais nos valores que este ato traz do que propriamente no conteúdo. Por isso, determinei alguns princípios que busco construir no ato de lecionar:
- respeito pelo ser humano;
- o diálogo acima de tudo;
- a busca da autonomia do indivíduo;
- uma visão crítica sobre o mundo em que vivemos;
- o acesso, por meio do conhecimento, às diferentes culturas que nos rodeiam.
Tentarei preparar aulas sempre com estes princípios em mente. A minha postura e as minhas ações serão conduzidas por eles. Se não conseguir fazer com que todos dominem mais e melhor a língua portuguesa, espero ao menos colaborar para que meus educandos sejam pessoas mais conscientes.